cotoco (1)

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Pensa na cena: uma garota sentada em um quiosque de um posto de gasolina, esperando o esposo sair do trabalho. Normal. Mas olhe mais de perto e perceba que ela ri sozinha, quando não solta uma tímida gargalhada. O que há com ela? Ela, sou eu e estava lendo Cotoco, de John van de Ruit.

Eu esperava me divertir muito com o Cotoco, mas o livro superou e muito minhas expectativas. Que eu me lembre foi a primeira vez que li algo em forma de diário, até torci um pouco o nariz no começo, mas para minha felicidade a experiência foi muito boa.

Querem conhecer Cotoco? Então vamos lá. John Milton é um menino de 13 anos que acaba de se mudar para um renomado internato para garotos. John ganhou uma bolsa de estudos e por isso consegue a vaga na importante instituição, que depois descobrimos ser, na verdade, mais parecida com um hospício do que com uma escola. Logo nos primeiros dias todos ganham apelidos, o de John é Cotoco porque ainda não desenvolveu suas partes íntimas (não tem pelos e tem um pintinho pequeno), um grande motivo de vergonha e chacota, claro.

Como contei, Cotoco mantém um diário, que é ambientado no ano de 1990, na África do Sul, e é através dele que acompanhamos todas as suas estripulias e de sua trupe. Ah, não posso esquecer de apresentar os companheiros de ala do jovenzinho: Cachorro Doido, Lagartixa, Rambo, Rain Main, Esponja, Simon e Barril, cada um apresenta uma esquisitice diferente e por conta do que aprontam são nomeados os Oito Loucos. O grupo se mete em cada enrascada, apronta cada uma que é impossível não cair na gargalhada. Juntos tomaram banhos proibidos na represa de madrugada, foram perseguidos pelos seguranças, seus cães e na fuga o pobre Barril ficou preso na janela da capela, precisando de uma bela desculpa, inventada por Rambo, para se safar de umas chibatadas; eles também tentam desvendar um misterioso suicídio que ocorreu na escola, colocaram o pobre Cachorro Doido com colchão e tudo para dormir no pátio, isso sem que ele acordasse; invadiram a cozinha, roubaram comida de que nem precisavam e, o mais incrível, presenciaram a quebra de recorde do peido mais longo da escola, feito realizado por Barril (foram 30 segundos, pasmem!).

Durante este período de conhecimento, mistérios e aventuras, Cotoco é arrebatado pelo seu primeiro amor. A Sereia que rouba o seu coração. No entanto, após conseguir um papel super importante na peça realizada pela escola e pela St. Catherine, uma instituição semelhante à de Cotoco, frequentada apenas por meninas, que elas o ouvem cantar e que conhece Amanda, tudo vira uma confusão. Seu coração bate forte, mas ele já não sabe mais quem é a responsável por isso.

A família de Cotoco é um capítulo à parte, uma loucura total. O pai é doido de pedra, cismado com tudo, começa com os cachorros do vizinho e continua com a libertação de Mandela (ele pensa que Mandela vai se vingar de todos os brancos e matá-los), seu envolvimento com a polícia é contínuo. Já a mãe pensa que a empregada, chamada Innocence, é uma cafetina e que usa sua casa para os trabalhos. Uma das verdades é que ela vende umas bebidas estranhas. Ambos, os pais de Cotoco, gostam de beber vinho e constantemente fazem o filho passar vergonha seja nos jogos de críquete ou rúgbi ou ainda em outras visitas à escola. Sem falar dos casos nos shoppings e na própria rua em que moram. A avó, Wombat, é outra doida de pedra, sempre acha que tem alguém querendo roubá-la e conta as mesmas histórias repetidamente. Olha, Cotoco precisa ser muito forte para não seguir o mesmo caminho dos parentes e das pessoas que o cercam, do contrário vai bater pino, como costuma escrever em seu diário.

Cotoco é um livro empolgante, divertido e diferente de tudo o que eu havia lido. Fiquei emperrando sua leitura porque não queria me despedir dele, de suas travessuras, de sua família maluca e dos doidos que convivem com ele. Bem, acho que sei por que no fundo não queria terminar de ler Cotoco. Bem lá escondido, eu sabia que a vida não era sempre divertida e que nunca tudo fica 100% por muito tempo, sabia que a história de Cotoco me faria chorar. Incrível como um livro que me fez rir tanto, fez com que eu derramasse tantas lágrimas faltando apenas algumas páginas para o fim.

spudthemovie Foto dos atores que interpretarão os Oito Loucos no cinema. O filme tem estreia marcada para dezembro!

Cotoco tornou-se o irmãozinho mais novo que eu nunca tive. Senti orgulho com seu sucesso no teatro, roí as unhas com suas confusões e fiquei em pânico por não poder ajudá-lo quando precisou de mim. Mas acima de tudo, ri muito com ele e sempre que pude, compartilhei com quem estava próximo de mim alguns trechos do livro.

Cotoco vai ficar na memória, lá naquelas boas, que a gente sempre gosta de lembrar.

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