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Sabe quando um livro lhe transporta totalmente para outro lugar? Conta-lhe curiosidades, cultura, a história de um povo, tudo isso de uma forma que você não perde o interesse e sempre quer saber mais? Esse livro é “Laowai – Histórias de uma repórter brasileira na China” de autoria da repórter Sônia Bridi. O nome escolhido para o livro não poderia ser mais apropriado, Laowai significa estrangeiro em chinês. Porque em chinês? Bem, a aventura que Sônia narra em seu livro começa em 2005, quando ela partiu para Pequim/Beijing, capital chinesa, como correspondente internacional da Rede Globo, juntamente com seu marido, o repórter cinematográfico Paulo Zero, e seu filho de apenas três anos, o Pedrinho, para nós que ficamos íntimos da família durante a leitura. A obra é uma reunião de informações espetaculares e nos leva para uma verdadeira viagem aos países orientais. São relatos que indignam, emocionam e que nos deixam com uma vontade imensa de conhecer cada lugar pelo qual Sônia passou.

O casal, que se conheceu em Nova York e com 14 anos de casamento, além da China, viajou por Coreia do Sul, Índia, Vietnã e em cada uma das cidades visitadas havia uma história especial a ser contada. Como as das senhorinhas que quando jovens tiveram os pés deformados para que ficassem bonitas, ou da vila em que vivem idosos e seus netos, já que todos os adultos trabalham nas cidades para conseguir o sustento das famílias, entre muitas outras. Teria que escrever um texto bastante extenso para poder falar sobre todas as histórias interessantes que a repórter presenciou no período em que esteve por lá.

Além das situações cômicas, Sônia e sua equipe passaram por ameaças, dificuldades na realização de matéria e sofreram com o preconceito por serem estrangeiros em um país tão cheio de costumes, que nos parecem um tanto ultrapassados, e suas tradições milenares. No fim do livro Sônia nos presenteia com um pequeno álbum de fotos das viagens relatadas no livro. Como essas abaixo:

Não perca tempo, viaje com Sônia Bridi, Paulo Zero e cada um dos personagens desse incrível livro. Abaixo reproduzo dois trechos da obra, disponibilizados no site da editora Letras Brasileiras:

LIJIANG
Neste pedaço da China, o verão só se diferencia do inverno por causa das chuvas. De junho a agosto, elas são fartas. O céu fica sempre encoberto e as nuvens impedem a vista das montanhas. Mas aqui, aos pés do Himalaia, Lijiang – a cidade da eterna primavera – desabrocha. Lijiang significa rio bonito. Um rio de água clara, transparente, usado com abençoada sabedoria. Não há um papel, um pedacinho de plástico, um sujeira sequer, nos vários quilômetros de rio que cortam esta cidade histórica.
No fundo da água avistam-se algas e peixinhos. A água é muito gelada, mesmo agora no verão, e os restaurantes poupam energia botando a cerveja para gelar no riacho, os engradados pendurados por uma corda para não serem levados pela correnteza. A fonte do Rio Bonito é uma geleira lá no alto das montanhas, agora escondidas.
(...) As casas do centro histórico da linda cidade de Lijiang são de madeira e pedra. Têm lanternas vermelhas na iluminação, pátios internos com jardins bem cuidados, esculturas em pedra, pequenos aquários de carpas coloridas.

Sônia com moradoras de Lijiang

GUILLIN
É mais do que a paisagem chinesa como a vemos nas aquarelas. É a paisagem perfeita na definição artística chinesa. O rio Li desce preguiçosamente, suas curvas parecem encenar os movimentos de tai chi chuan. Os blocos de granito sobem aos céus, em formas dramáticas, pontas de lanças ao mesmo tempo gentis e agressivas. Suas margens são emolduradas por bambuzais. Shan-shui, montanha e água, é um estilo da pintura tradicional chinesa. É a interpretação de Guilin. E nós começamos o dia entrando nessa paisagem.
Cedo, antes que os turistas comecem a descer o rio, embarcamos num barco alugado. Queremos a imagem limpa, como nas aquarelas clássicas. Há uma neblina no ar matinal, mas ela não vai sumir com o sol – é a poluição que cobre boa parte do território chinês, e com sua chuva ácida ameaça este paraíso oriental. As árvores que crescem entre as pedras estão morrendo, e os desmoronamentos são cada vez mais freqüentes. Mas não paramos para pensar nisso. O capitão desliga o motor do barco, e permite que ele deslize na correnteza suave. Silêncio... e sinto como se a beleza gritasse.
Algas crescem no fundo do rio de água límpida. É como uma grama aquática, pasto para os búfalos que afundam a cabeça na água e saem com a iguaria escorrendo pelos lados da boca. Um barco pequeno, parecendo uma jangada sem vela, feito de bambus colados uns aos outros, se aproxima. O velho pescador tem os pés descalços. Na cabeça, um chapéu com abas grandes. (...) Agora cedo, ele pesca. Mais tarde, vai posar com turistas, um yuan por foto.


O livro é escrito por uma jornalista, mas nem por isso é direcionado apenas a quem exerce essa profissão. Quem gosta de novas culturas, gostaria de viajar por lugares diferentes, vai se deliciar com o livro.

Curiosidade: Questionada no twitter sobre seu novo livro e vídeo “Terra – Que tempo é esse?”, um quadro especial filmado para o Fantástico em que os repórteres viajaram a doze países pra conhecer de perto os lugares mais ameaçados pelo aumento da temperatura, ela afirmou que deve sair ainda no primeiro semestre. Aguardamos.

PS: Essa resenha foi postada originalmente no blog VIVO Jornalismo.

Beijos