a-garota-dos-pes-de-vidro-ali-shaw Eu não sabia nada sobre o livro quando o comprei. Não li sinopse, não busquei opiniões no Skoob, nada! Isso porque essa capa simplesmente me conquistou. Ela é linda, tem um quê de sombria, mas é linda e eu tinha que tê-la. Ainda mais pelo precinho camarada que estava. Nem sabia quando ia ler, até que a Alana o escolheu como leitura do Clube do Livro, então ele furou a fila.

A leitura de A garota dos pés de vidro é diferente, não é rápida,  não flui com tanta velocidade. Talvez isso se deva pelo mundo completamente estranho criado por Ali Shaw. É uma viagem e eu demorei um pouco para me acostumar aos touros e vacas miudinhos com asas de borboletas, ao animal que deixa tudo que olha para ele da cor branca, às pessoas que começam a virar vidro e, especialmente, ao passado e presente doloroso dos personagens. É praticamente impossível encontrar uma história feliz aqui.

Comecemos por Midas, o mocinho da trama. No passado ele foi atormentado por um pai frio e desatencioso, um pai que não conseguiu segurar as pontas e cometeu suicídio… na frente dele. Para completar, sua mãe o ignora, foge ao máximo de suas raras visitas e vive uma vida vazia, triste, abandonada. Midas desde criança adorava fotografar e é isso o que mais gosta de fazer ainda. Quando não trabalha na floricultura de seu amigo, está pelas ruas fotografando. É assim que conhece Ida, já já eu falo dela.

Midas era filho de Midas, o pai era um homem fechado. Um personagem que eu detestei com todas as forças, incapaz de sentir amor, ao que parecia. Incapaz de lutar para fazer as pessoas em sua volta felizes. A única coisa que me fazia gostar dele era sua paixão por livros, que era um pouco exagerada também.

Você devia gastar seu dinheiro em livros. Sabe disso? Livros, MidasPágina 81

 

 

O pai tirou livros de sua sacola e os alinhou na areia. Livro após livro após livro. No primeiro dia deles de férias na praia perto de Gurmton passaram o dia inteiro em uma livraria, enquanto seu pai folheava cada volume das prateleiras buscandoo que achava ser mais pertinente. Página 176

A mãe dele também se mostrou uma mulher fraca e com sentimentos congelados. Que mãe não faria de tudo por um filho? Sei que existem alguns exemplos, mas eu não me conformo. O problema na casa sempre foi a frieza do pai e a rigidez com que tratava esposa e filho. Depois que ele morreu, o que poderia ser consertado foi simplesmente deixado de lado. E a mãe de Midas se tornou uma mulher insensível.

É tudo uma pena, Midas. Nada de bom veio do casamento com seu pai

Página 97

Como assim? E o filho? Nem o filho ela considera uma coisa boa? Chega dessa família para mim. Passemos para a próxima personagem. Ida. A garota do título do livro – que inicialmente pensei ser uma metáfora. Ela é da cidade grande, mas passa férias na ilha sombria – que sempre me veio na cabeça como um lugar preto e branco –, na casa de um amigo de sua mãe, Carl. Seu verdadeiro motivo para estar ali é uma anormalidade que acometeu seu pé, ele está virando vidro. E ela acredita que um morador dali a possa ajudar. Nesse meio tempo, Ida conhece Midas e começa a passar muito tempo com ele. Ele descobre seu segredo e juntos tentam conseguir uma solução. Assim a trama se desenvolve e o amor de um pelo outro também.

Ah, Ida tem um passado doloroso também. Sua mãe morreu de câncer e seu pai é um religioso fervoroso, as coisas entre eles estão bem estranhas. Carl é tipo um segundo pai para ela, o que ela não sabe é que ele gostaria de ser o único. O cara sempre foi apaixonado pela mãe dela e não aceita o fato de só ter tomado conhecimento da doença da amiga quando ela já estava morta. Para ajudar, ele começa a ver Freya em sua filha e começa a surtar.

original Capa original

Outra família que tem uma história triste é a do amigo de Midas, o dono da floricultura e pai de Denver, a personagem mais fofa e querida do livro. Uma garotinha esperta e sensível, que perdeu a mãe em um trágico acidente. Midas também cuida dela e é ela que muitas vezes o faz sentir alguma coisa. Depois, claro, Ida também consegue mexer com ele.

Às vezes era bom ser tocado por Denver. Ela passara tanto tempo com ele que, às vezes, Midas se esquecia que ela era uma entidade separada. Ele se perguntou miseravelmente se algum dia alcançaria um estado assim com Ida. Página 220

A história é muito louca, os personagens com uma bagagem muito pesada e terrivelmente triste, o que deixa a leitura assim também. É muita tristeza, atrás de tristeza. E falta de esperança e mortes. Nossa! Outra coisa que pesava na leitura era a narrativa muito detalhista, por demais, cansativa. Separei um exemplo:

 

No final de uma rua de casas pintadas num azul rústico ficava a Biblioteca Pública de Ettinsford. Em constraste com as casas elegantes, as paredes emplastradas da pequena biblioteca afundavam em si mesmas. Janelas inclinadas pareciam madeira abandonada. Vidros estavam manchados com lama fuliginosa. Era um noite nublada e as janelas lançavam projeções alaranjadas nas calçadas úmidas. Gaoivotas brigavam empoleiradas em linha ao longo da sarjeta e grasnavam para Ida conforme ela enfrentava os degraus da porta da frente agarrando um corrimão escorregadio e apoiando todo o seu peso na muleta. Página 151

Outro fato que me incomodou foi a falta de explicações como, por que as pessoas viravam vidro? O que elas fizeram para ter essa “doença”? Como foram criados os bois com asa de borboleta? O que eles significavam? E o bicho que deixava tudo branco, qual o papel dele na história? Ficaram muitas dúvidas, o que fez o livro perder pontos comigo. Mas se teve algo que o fez ganhar pontos, foi o final. Diferente de tudo que eu imaginei ou do que eu esperava.

vidro Trabalho lindo da editora Leya com o livro. Foto do Coolture News.

No Clube eu dei nota 7, até porque me apeguei ao Midas e a Denver. No Skoob ele ganhou três estrelas. Eu gostei e não gostei, ficou no meio termo, sabem? Não é um livro que eu recomende fervorosamente, principalmente por suas falhas e tudo o mais. Porém, tenho que lembrar que a leitura pode ser diferente para alguns de vocês, então se quiserem tentar, depois me contem o que acharam. Ah, meu exemplar teve uma página com uma parte apagada e notei também alguns errinhos de revisão, nada absurdo.

Beijos e uma ótima quinta-feira.